18 de agosto de 2012

A sua vida


Quase morta. Já cansada
Leva a vida. Triste vida,
Saturada!
Por viver neste sofrer!
E através dessa porta
Do passado…Já fechado!?
Olha em volta
E volta a ver, vida morta.
Sempre morta. Sem viver!
E deseja com revolta
Estar morta. Já não ver
O embuste e a mentira,
O partido que se tira…
Que se ajuste à impostura
Que assim dura
Toda a vida, de uma vida!
E como criança
Vive a sonhar a esperança
Duma pausa!...
Que melhore a sua causa
Ou que a piore!
E ao âmago desta vida
Junto ao fel bem disfarçado,
Numa sopinha de mel,
Que adoça esta mentira,
Desta vida, mal vivida,
Que rasgada tira, a tira,
Aos pedaços, em farrapos.
Fica a vida…
A sua vida!


18 de junho de 2012

Se tu quiseres...voltaremos a ter!

Há quantos dias que partiste
E ainda faltam
não sei quantos para chegares.
Em nossa casa tudo anda triste
e contam
com ansiedade, os dias p'ra voltares.

Nossos filhos
tão pequeninos! A toda a hora
Lembram o pai que vai trabalhando
por aí fora!
E com saudades,
falam de ti a todo o instante,
e teu retrato vão beijando
em ardor constante.

O mais velhinho,
Oh! Coitadinho, nem quer lembrar
Se o paizinho estará bem,
Sempre a pensar!?
E a pequenina,
viva e ladina com que tormento,
Fala do pai e o pai só tem
no pensamento!

Por mim, não sei...!?
Qual a diferença que tu achaste,
nesta ausência?
Apenas sei!
Que sempre me lembraste,
tua presença!

Se deus quiser, quando vieres,
voltaremos a ter!
Paz e união que ultimamente,
estavam a morrer!...
Se tu quiseres?!



14 de junho de 2012

Fechado na solidão

Sentado num banco de jardim
Vejo passar em redor a multidão
Da gente que pulula na cidade,
Num vai-vem constante!
Uns felizes falam com o companheiro do lado,
Outros calados seguem seu destino.
Além está sentado um pobre velho libertino.
Aqui uma criança brinca e salta p'lo jardim.
E penso...
Como adivinhar das suas mentes,
Os seus anseios e os seus pensamentos?
Como vislumbrar através da solidão
Se aquele sofre, quando ri e está alegre!?
Quando o outro diz (e não é) que é feliz!?
Quantas coisas passam junto a nós despercebidas.
Da nossa parte nem tentamos
Procurá-las. É preciso ter,
Sentir coragem de encarar
Que aquela que passa junto a nós
Não mais se vê.
Vive e sofre e ri e nem sabemos se é feliz.
Que importa afinal
Se o mal nem nosso é?
Quero sorvê-los tal qual são.
Tristes ou alegres, os que passam lado a lado
E mesmo os que vivem fechados na solidão.



16 de maio de 2012

Na sala de espera...

Entrei,
Sentei-me e folhei um livro,
Embrenhei-me na leitura e esqueci-me
de que esperava.
À minha volta ouvia como que
Em longínquas paragens um marulhar.
(cheiro de tabaco)
Pousei o livro e quedei-me a escutar.
(cusquice!!)
À direita uma mãe contava
Os pormenores duma doença,
Noutro lado outra que falava
Dos exames dos filhos e eu sei lá...
Só falavam e a cabei por pensar.
Afinal eu é que estava errado,
Pois que ali aproveitavam esta espera
Para trocarem umas palavras.
E assim passavam aquelas horas de espera.
Da espera enfadonha que não mais
Acabava, e eu fechado, isolado, só.
Ouvia e analisava.
De todos os doentes que ali estavam
Só eu metia dó, só eu perdi a fala....
E quantos amigos dissimulei
À espera, naquela sala.


10 de abril de 2012

Serás sempre criança

Rua fora lá vais,
Rapidamente apressada
E como te atrais
A olhar a criançada.

Nostalgia enfadonha
Que te deixa combalida,
Que te deixa com vergonha
Da tua vida perdida.

Tens rasgos de memória
De um passado que te afronta
E perdeste-te na história
Como uma criança tonta.

Mas não percas a fé
Se criança já não és,
Mesmo o ínfimo clichet
Vai e vem com as marés.

Assim poderás continuar
Sem perder a esperança.
Com o passado a pairar
Serás sempre criança!


1 de fevereiro de 2012

Ganho cor


Irreverentes corpos,
Diabolicamente certos,
Retornam em tons cinzentos
Aos lugares que são seus.
E tristemente
Coçam o rosto cansado,
Que dia a dia vai-se desgastando.
Múltiplos suspiros
Ecoam no regresso laboral,
Que enchem os ouvidos de
Repetições saturantes.
«Não era como dantes!»
Queixa-se a senhora curvada
Pelo ouro que suporta.
Mas queixar ironicamente ao outro,
Provoca comichão.
Cocei-me...
Cocei-me...
Cocei-me...
E lentamente repelo-me.
Estou cinzento!

Dor suada pelo piano
Que chora e devora
O balcão atafulhado de cinzento.
Mas que lamento...
Triste e metódico
Comprazo a barba
E cinicamente falando,
Sentado num banco,
Enamoro pessoas que
Entram e ficam
E ganho cor...