3 de dezembro de 2011

Escrita Inibida

Ontem escreveria poesia,
Mas o carvão gerou discórdia.
É como dita a profecia;
Lápis insano que rejeita concórdia.

As linhas gastas quebraram
E os dedos trocaram sentidos,
Que loucos poetas amaram...
Pobres poetas sempre perdidos.

Pobre escrita insaciante
Do louco que nada escreve.
Caminha triste e errante
Na vida que nunca teve.

Mas sorri quando me vê.
Sorri e acena p'ra mim,
Sorriso nitidamente infeliz.
Não sei qual o porquê...
Da sua escrita ter tido um fim,
Se a amava loucamente feliz.

10 de novembro de 2011

Querer erréneo

Persegui-te outrora,
Tinhas um vestido azul.
(Aquele que tanto gosto)
Não sei se era da lua,
Das estrelas,
Da noite ou
Do tempo.
Mas naquele fingimento
De admirar quem não me quer,
Senti um lamento.

E num etéreo prazer
Tive um pensamento:
Poderá o amor
No seu clamor
Dizer que ama com dor,
O querer usurpador?

Gritei!
Grito mudo!
E deludo a formusura
Que perdura,
Mas obtura
Ao de leve a curvatura
De andares
A olhar p'ra baixo.

22 de outubro de 2011

Conformação...


Se me encontro deprimido,
escrevo. Escrevo destroçado,
por viver amargurado
e em sossego inibido.

... Ó triste! O teu amargor
Quase em ti se desvanece
E tudo que te merece
Se desfaz em mágoa, em dor!

Por vezes queria ser forte,
Por outras desejo a morte.
Vendo nisso a solução.

Mas contenho meus anceios,
disfarço meus desvaneios...
Procuro conformação...!

13 de julho de 2011

Desafogo

Às vezes eu queria entender
o porquê deste viver amargurado.
É como tomar uma chávena de café
quente, que cheira bem
mas de sabor muito amargoso. Só posso ver
em todo esta ardilosa comédia,
um misto de insegurança e cobardia.
De que têm medo? O que há para além de toda a injustiça
e crueldade, em que se deixam envolver?
Fazem-me pena
aqueles, que vivem parados no tempo,
que deixam corroer as entranhas
dos mais míseros sentimentos.
Pobres deles que não amam
e nem querem ser amados.
Almas tacanhas,
denegridas sem o mínimo desejo
de ver mais além, de ultrapassar essa podridão
De que se acham corrompidos.

Amor revolto

Revoltas-te com o meu silêncio,
Que te sufoca com intensidade.
Esperas com alguma ansiedade
O som que tanto almejas.

Meu reflexo em ti permanece,
Revejo em teus olhos espelhados.
Teus gestos fortemente enfeitiçados
Por um passado que bem desejas.

Pois o que foi, não volta a ser.
Sumi, esquece, morri p’ra ti.
Tempos antigos me envolvi
Nessas palavras que cotejas.

Corações apaixonados, incontrolados,
Trituram tua inquietude, que outrora
Era calma por dentro e por fora.

Eu amei-te num passado, bem presente,
Sem pensar no tempo, sem pensar na hora,
Amei-te intensamente, desde o nascer da bela aurora.


30 de junho de 2011

Valsa Colorida

Eternas figurinhas,
Leves como plumas,
Belas como flores.
Essa valsa linda,
Dançai, dançai!

Pousei os meus olhos
Naquela pintura,
E meditei.
Quem foi o pintor
Que assim vos deu vida?
Donde recebeu
A inspiração?
Singela moldura,
De beleza e cor
Que me fez lembrar,
O Infinito.

E me fez sonhar!
Sonho irreal,
Maravilha infinda.
Belas figurinhas,
Muito docemente,
Dançai… dançai….
E continuai
Essa valsa linda
Eternamente…

1 de junho de 2011

Tempo que passa...

Os dias não passam.
A água estagnou,
A vida a parar
De negro vestida.
E o homem sentado
No tempo que passa,
Feliz esvoaça,
Dormindo acordado.

Vive embriagado,
Na droga embebido.
E como o leão,
Lança o seu rugido:
Eu sou o senhor!
Preciso mandar!
Vivo para impor,
Adoro matar
A esperança que nasce
Noutro coração
Que chama de irmão.

Mas não sente assim.
Palavras em vão,
Que vão, e que passa.
E o homem esvoaça
No tempo sentado.
Implanta a discórdia
Num ser magoado…
Nem tenta a concórdia,
Pois vive parado!

 
tempopassa

7 de maio de 2011

O Cavador

Alegre era o cavador!
Quando na enxada pegava,
E da terra ele arrancava…
O pão. O seu labor!

Nunca a sua mão tremia.
Quando a semente lançava…
À terra, donde tirava
O pão, que ele comia.

Já velho, o cavador.
Foi perdendo o vigor,
E a sua mão tremia!

E quando enfim parou!
O seu corpo tombou…
Na terra negra e fria!


27 de março de 2011

Tarde a dois

Sentei-me no divã torrado,
Que se encontra debaixo
Das escadas que vão
dar ao sótão.
Estava a ouvir-te tocar
Aquela música de Verão.
Sorris-te para mim, era
A nossa melodia.
Lembras-te?
Nunca me esquecerei
Daquela tarde,
Daquele dia.

No centro da sala
Reinava a mesa de madeira,
Com o cesto de flores secas.
Senti o rosto a rescaldar,
Corei!
Lembrei-me do que tinhas sussurrado:
“Vivo para ti, pois não há
Quem viva para mim!”
Abstraí-me das nossas frivolidades.

Caminhei ao teu encontro.
Não me fixas os olhos,
(como sempre)
Mas tremes ao ver-me
Aproximar.
Tinha o coração acelerado,
Que nem cavalo a galopar.
Sorri para ti!
Sorris-te para mim!
Emoções num intenso frenesim.

E nessa tarde…
E nesse dia…
Reencontrámos a forma mágica
De nos enamorarmos,
Sem gastar uma única palavra!
Com o olhar…
Com o sorrir…
Invadimos o mundo de cada.
E permaneci contigo…
Naquela sala…
Naquele divã…
A ouvir-te tocar!


12 de fevereiro de 2011

Cada pessoa... É um ser!

Cada pessoa, é uma história.
Uma vida, uma ilusão,
Um desgosto, uma promessa
Que se ateia, quando a pressa
De viver, já pouco vale.

É uma quimera.
Um sonho, sonhado a sós!
Ou a dois? Mas pouco interessa…
Ilusão que se repete
Quando a vida nos promete…
Ou que só fica em promessa!

Um sol fulgente, no meio
Duma escuridão, ou noite cálida
Em pleno inverno. É vento
A fustigar aquele corpo franzino,
Mirrado de tanto sofrer.

Cara alegre, rosto maduro,
Bonacheirão ou enigmático!
Cada pessoa tem um misto
De tudo, que envolve este pensar…e…
Do nada, que nem chega a falar!
Cada pessoa… É um ser!
Que passa; que vem, e que vai!
E que nasce p’ra morrer.
E até voltar… Quem sabe, se o merecer.


6 de fevereiro de 2011

Amor?!?!?

Ai o que oiço dizer
e não concordo.
Amor! Falam de amor,
e não sentem.
Amar. É dar-se a gente,
sem reservas, estar de acordo.
Mas assim só falar...
mas que absurdo.
Quando o coração insiste,
e surdo quer ficar.
Ai, mas se todos falam de amor,
e isto é falar.
Fazer algo de mais.
Dar-se a tudo e todos,
sem distinção.
Pois todos precisam receber.
E sem pensar em nós,
Dar...e esquecer!

21 de janeiro de 2011

Essa tua vida...

Essa tua expressão desconfiada.
Os teus membros cansados, doloridos.
Rescaldo desses dias mal vividos.
Descrevem tua vida amargurada.

Que tens formosa, bela criatura?
Que mostras um passado bem presente.
Que em teus verdes anos se ressente
E morta, vais vivendo em amargura!

Que o dia que passa, já não volta.
E quando olhas o espelho com revolta
Tuas rugas já cansadas de inquietude...

Na vida não encontras lenitivo.
Desse pecado morto e sempre vivo
Formosa e bela...em decrepitude!